Tínhamos 15 e 16. Casamento da irmã mais velha dele, família por todo o lado. Vó Meloca esqueceu uma calçola-barraca-dupla no quarto, o tio pendurou no lustre, a véia procurando a casa toda sem querer dizer o quê e a gente rindo a tarde inteira. Deitamos no tapete da sala, cabeça com cabeça, enquanto todos corriam pra lá e pra cá entre vestidos e ternos e cheiro de laquê e sapatos novos.
– A gente devia era ficar solteiro pra sempre.
– É, e viajar o mundo.
– Isso, viajar o mundo!
– Então combinado, nunca vamos nos casar.
– Não vamos contribuir com a perpetuação dessa espécie. E seremos os tios preferidos: engraçados, divertidos e impertinentes, daqueles que ensinam todas as porcarias pros sobrinhos.
Ganhei mundo antes dele. Voltei. Visitamo-nos e saímos algumas vezes, rindo muito, falando de nós mesmos quase sem palavras. Não precisava, nos conhecíamos bem demais. Perdi uns quilos. Ele, uns cabelos.
Apaixonei-me por aquele francês, passei um tempo morando com ele. ‘Traidora’, disse, não lembro se por e-mail, telefone ou parentes. Ganhei mais mundo ainda. Um tempo depois ele ganhou mundo e apaixonou-se também. Por uma chata, ainda bem que acabou.
Ele casou com outra, eu casei com outro, não lembro em qual ordem. E nosso pacto foi pro beleléu, as famílias faziam questão de lembrar disso a cada encontro bissexto.
Ele teve uma filha. Eu, uma cachorra. E sabíamos um do outro pelos parentes. Até que eu descasei, ele descasou, não lembro em qual ordem. E rimos, nós dois e as famílias, da nossa profecia autorrealizadora. Tínhamos virado titios e solteiros, os dois.
Amanhã ele vem aqui em casa e vamos rir com e um do outro, como sempre, como se tivéssemos nos visto ontem. Ainda não sei o que vou cozinhar, só sei que vai ficar bom. A irmã mais nova dele vem também, com o marido. Serão nossas duas testemunhas do Encontro Quase Anual dos Primos Desgarrados.
maravilhoso….to vendo a cena..a confusão do vai vem da familia…o pão de millho com manteiga mole..a mortadela…..a meloca..e nós os tio velhos ,querendo lembrar de que familia é o casamento e que sala deitaram no tapete…e que crianças travessas.;.parecem um boi de vento sul….ah que saudades.bjs
Tia Rô, vocês eram e sempre serão nossos tios xóvens!
Fê,você fotografa com palavras,texto perfeito,leio e rememoro cada segundo deste dia.bom encontro com os queridos:júnior e gigi.
assim eu choro!!!!
Adorei! Eu amo o seu estilo de escrever 🙂 Bom jantar pra vocês.
Teu texto é de babbá. Baba Babbo! Uma bela história para reviver, reviver, reviver. um grande beijo do Babbo.
Excecional texto, suave, divertido, poético. Abraços!
Ô, Dadi!!! Quantos anos desde que te visitei a primeira vez? Acho que lá se vão uns bons 5 anos… e não canso de te ler nunca, vê se escreve esse livro logo, tá? =D
É mesmo, Manu. Que bom que você ainda volta, apesar de eu aparecer só de vez em quando ;***
Oie!
Texto gostoso, sinônimo de família – “quase” me vi personagem… rs Obrigada por dividir.
beijo e boa semana,
Um beijo pra você também, Tina. ;***
Como é bom ler o que você escreve. Rir, chorar, sonhar… Você nem imagina que do outro lado alguém que não lhe conhece, que nunca lhe viu ou verá… se emociona com o que você escreve…
Estou torcendo por você… Não suma, te ler faz muito bem…
Bjs
Mara